quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Enfermaria nº 6

Esse conto de Tchekhov tem me surpreendido. É de uma narrativa que foge à delicadeza de outras história, como O beijo; é gélida, de descrições analógicas, séria, dura e objetiva.

A enfermaria nº 6 abriga doentes psiquiátricos e faz parte de um hospital absolutamente sórdido, desorganizado e imoral. O vigia bate nos pacientes, as enfermeiras jogam cartas com os médicos e embebedam doentes de outros setores com vodka. E a cidade é habitada por gente insensível, alienada e indiferente. À exceção de poucos sujeitos, a exemplo do médico Andriéi Iefímitch. É dele também o pensamento a seguir reproduzido:

"Oh, por que o homem não é imortal?", pensa ele. "Para que existem os centros cerebrais, as circunvoluções, para que a visão, a fala, a autoconsciência, o gênio, se tudo isso está destinado a crosta terrestre e depois, durante milhões de anos, girar sem sentido e sem um objetivo, com a Terra, ao redor do Sol? Para esfriar e depois girar, é de todo necessário retirar do nada o homem, com a sua inteligência elevada, quase divina, e depois, como que por zombaria, transformá-lo em barro."

"A troca de substâncias! Mas que covardia é consolar-se com esse sucedâneo da imortalidade! Os processos inconscientes, que ocorrem na natureza, são inferiores mesmo à estupidez humana, pois na estupidez existe, apesar de tudo, consciência e vontade, e nos processos não há absolutamente nada. Apenas um covarde, que tem mais medo da morte que dignidade, pode consolar-se com o fato de que seu corpo um dia viverá na erva, na pedra, num sapo... Ver a sua imortalidade na troca de substâncias é tão estranho como predizer um futuro brilhante à caixa de um violino caro, depois que este se quebrou e inutilizou."

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