Apesar das neuroses sociais, dos estresses naturais e dos cansaços pessoais, há muita coisa linda no mundo. Muita coisa linda mesmo. E não falo sobre as belezas naturais, ou belezas artificiais, mas falo simplesmente sobre aquilo que há de lindo e puro no mundo. É uma coisa completamente indefinível, que a palavra encobre e limita. O que chamo de lindo é essa coisa que chamamos de existência, a mais pura das coisas mundanas. Essa coisa que sentimos e não comunicamos. Apenas sentimos. Sentimos as coisas existirem ao nosso redor, em todo o tempo, em todo o lugar. A respiração sofrida do motor do caminhão na rodovia, a rodovia cinzenta e imóvel, o motorista do Astra que ultrapassa cegamente o ônibus e por pouco não destrói uma fatia da existência deste mundo, inclusiva a sua própria e talvez a minha e de todos os outros do ônibus. Existir é atemporal, ele acontece e vai acontecer. E grande parte dele já aconteceu. E esse movimento todo é constante, inevitável, ilimitado. Nossos sentidos despertam, e assim percebemos as coisas existindo aqui e ali, imóveis ou frenéticas, ríspidas ou suaves. E quem disse que só há existência naqueles que respiram e sangram? Tudo existe, mas nem tudo vive. Tudo é. A antítese também é muito verdadeira e latente. O Astra ultrapassa, quase se choca com mais dois outros carros. Por pouco, o existir de muitos e de muitas deixa de existir. Não existir é tão palpável quanto o existir. Só que nos é vedado conhecê-lo, a não ser pela morte. O limite é um suspiro, um piscar, um adeus mudo (ou não) ao existir. Enquanto o momento do adeus apenas se aproxima e ainda não chega, existamos e sintamos o cheiro da existência.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
A beleza da existência
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2 comentários:
mudez de novo...
(que continuidade há entre esse texto e este outro, "existir é sofrer"?)
Naquele outro, eu me sentia sufocado pelas coisas. Neste, eu me sentia contemplativo.
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