quarta-feira, 10 de junho de 2009

O velho moço

Mãos afundadas nos bolsos, suspensório levemente frouxo, que sustentava ombros caídos, cansados. Entre as fitas escuras que cruzavam toda a extensão da camisa, de um roxo desbotado, podia-se notar uma cabeça calva, fosca, aparentemente de um homem de idade avançada. Ele caminhava pela calçada que acompanhava a grande avenida, que tinha suas laterais invadidas por enormes torres de concreto acizentado e suas amplas pistas duplas sufocadas por veículos personalizados de tantas maneiras quanto a infinitude da tecnologia da época permitia. Vestido em um par de calças de um marrom impenetrável, que desembocava em sapatos negros forrados em camurça de felpos gastos, o homem que aparentava ser idoso, se observado mais sensível e cuidadosamente, não deveria ter mais do que 30 anos. Parecia doer-lhe o canto dos olhos, pois o moço alfinetava-os com alguma frequência, enquanto andava vagarosamente, sem objetivo algum em mente. Sobre a época em que este solitário moço idoso vivia pouco se sabe. Dever-se-ia estar inserida em um ano qualquer após o advento tão sonhado da inteligência artificial em todas atividades ditas humanas. Respirando um ar pesado, porém aparentemente incolor, o moço não movia a cabeça nem quando buzinas abruptas estouravam na autopista ao lado. Enquanto todos sentiam-se seguros em seus veículos personalizados ou em seus edifícios concretados, o velho jovem avançava, como que movido por uma melodia mental e de métrica rigorosa, avançava para um lugar qualquer, em que pudesse talvez ignorar apenas o incômodo da luz diurna, invisível na grande cidade, e da grama que roçasse-lhe as costas.

2 comentários:

... disse...

posso pegar algumas palavras emprestadas? (já que vc emprestou-me ao texto...)

Felipe Moraes disse...

Fique à vontade. auehauehau

;D