Ri de mim mesmo

Estou com Tudo Pode Dar Certo (Whatever Works), novo do Woody Allen recentemente lançado nos cinemas brasileiros, há pelo menos seis meses no notebook. É o mal do hype negativo: li uma meia dúzia de reviews de gente que detestou o filme e a má influência me fez perder o interesse. Até que decidi, enfim, ver como Allen se sairia dirigindo o sempre cômico e genial Larry David. O resultado é um pouco daquilo que já esperava, ou seja, o filme não tem nada de original, toma emprestado coisas de outros filmes do próprio realizador: a relação de um homem mais velho com uma ninfeta sonsa e levemente ingênua (estou sendo irônico) imediatamente remete a Manhattan; o tipo maníaco e perturbado, além de intelectual e pessimista de David remonta ao Woody Allen de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa; a interação do personagem principal, Boris (David), com o espectador faz clara menção a A Rosa Púrpura do Cairo (meu Allen favorito!) e outros filmes, é que só consigo me lembrar desse agora. Ok. Mas qual o problema nisso tudo?

O que importou pra mim foram as boas risadas que dei da arrogância de Boris e do deslumbramento de Melody diante da genialidade do físico, a brincadeira com os estereótipos norte-americanos (o típico sulista WASP, conservador e o típico nova-iorquino existencialista)... Observei no personagem de David um pouco de mim mesmo (estou falando aqui do modo como ele vê a vida, sempre desenganado com a suposta magia dos relacionamentos humanos e a idealizada beleza das coisas improváveis que acontecem conosco o tempo todo). Ainda continuo bastante pessimista, mas ao menos pude rir um pouquinho disso e notar como a dialética na qual procuramos enquadrar o mundo é às vezes desumana.