
Logo no início, há um diálogo entre um médico e uma mulher, numa região isolada da cidade. Já de saída, o médico mostra certa angústia ao dizer que as pessoas não tem mais tempo para pensar nas coisas da vida, perseguir o autoconhecimento, ao contrário das plantas, que vivem livres do trabalho e das banalidades da vida. A mulher indaga a respeito da Enfermaria nº 6, conto de Tchekhov comentado aqui há poucos posts. Com ar levemente embotado, o médico responde que pensamentos como esse não o afetam porque, afinal, ele é médico e a penosa situação de Andriéi Iefímitch, o doutor do conto, é apenas uma criação de Tchekhov. Iefímitch vive um verdadeiro inferno existencial e desacredita na utilidade da própria profissão (bem como da vida), ao conhecer a insensibilidade e o egoísmo da sociedade da qual faz parte. Talvez por presenciar o sofrimento alheio diariamente, o médico do filme adquiriu uma maneira, ainda que desumana, de enfrentar seus próprios demônios.
Como se sabe, Tarkovsky não é médico nenhum e encontra o bálsamo para o seu mal de outra maneira.
Um comentário:
Gostei demais desse filme tb.
Sureal.
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